quinta-feira, 24 de setembro de 2009 | Autor:

O que é o Yôga?

(Extrato de um capítulo do livro Tratado de Yôga)

Certa vez um famoso bailarino improvisou alguns movimentos instintivos, porém, extremamente sofisticados graças ao seu virtuosismo e, por isso mesmo, lindíssimos. Essa linguagem corporal não era propriamente um ballet, mas, inegavelmente, havia sido inspirada na dança.

A arrebatadora beleza da técnica emocionava a quantos assistiam à sua expressividade e as pessoas pediam que o bailarino lhes ensinasse sua arte. Ele assim o fez. No início, o método não tinha nome. Era algo espontâneo, que vinha de dentro, e só encontrava eco no coração da­queles que também haviam nascido com o galardão de uma sensibili­dade mais apurada.

Os anos foram-se passando e o grande bailarino conseguiu transmitir boa parte do seu conhecimento. Até que um dia, muito tempo depois, o Mestre passou para os planos invisíveis. Sua arte, no entanto, não morreu. Os discípulos mais leais preservaram-na intacta e assumiram a missão de retransmiti-la. Os pupilos dessa nova geração compreenderam a importância de tornar-se também instrutores e de não modificar, não alterar nada do ensinamento genial do primeiro Mentor.

Em algum momento na História essa arte ganhou o nome de integri­dade, integração, união: em sânscrito, Yôga! Seu fundador ingressou na mitologia com o nome de Shiva e com o título de Natarája, Rei dos Bailarinos.

Esses fatos ocorreram há mais de 5000 anos a Noroeste da Índia, no Vale do Indo, que era habitado pelo povo drávida. Portanto, vamos estudar as origens do Yôga nessa época e localizar sua proposta original para podermos identificar um ensinamento autêntico e distingui-lo de outros que estejam comprometidos pelo consumismo ou pela inter­ferência de modalidades alienígenas e incompatíveis.

Tanto o Yôga, quanto o Tantra e o Sámkhya[1] foram desenvolvidos por esse povo admirável. Sua civilização, uma das mais avançadas da anti­guidade, ficou perdida e soterrada durante milhares de anos, até que os arqueólogos do final do século xix encontraram evidências da sua existência e escavaram dois importantes sítios arqueológicos onde descobriram respectivamente as cidades de Harappá e Mohenjo-Daro. Depois, foram surgindo outros e outros. Hoje já são milhares de sítios, distribuídos por uma área maior que o Egito e a Mesopotâmia.

Ficaram impressionados com o que encontraram. Cidades com urba­nismo planejado. Ao invés de ruelas tortuosas, largas avenidas de até 14 metros de largura, cortando a cidade no sentido Norte-Sul e Leste-Oeste. Entre elas, ruas de pedestres, nas quais não passavam carros de boi. Nessas, as casas da classe média tinham dois andares, átrio interno, instalações sanitárias dentro de casa, água corrente! Não se esqueça de que estamos falando de uma civilização que floresceu 3000 anos antes de Cristo.

Não era só isso. Iluminação nas ruas e esgotos cobertos, brinquedos de crianças em que os carros tinham rodas que giravam, a cabeça dos bois articulada, bonecas com cabelos implantados, imponentes celeiros que possuíam um engenhoso sistema de ventilação, e plataformas elevadas para facilitar a carga e descarga das carroças.

Noutras culturas do mesmo período, as construções dos soberanos apresentavam opulentos palácios e majestosos túmulos reais, enquanto o povo subsistia em choupanas insalubres. Na cultura dravídica, ao contrário, o povo vivia bem e a arquitetura da administração pública era despojada.

Outra curiosidade foi expressada por Gaston Courtillier em seu livro Antigas Civilizações, Editions Ferni, página 24, quando declarou: “Ficamos verdadeiramente admirados de, nesses tempos profundamente religiosos, não encontrarmos templos ou vestígios da estatuária que os povoaria, como foi regra noutros lugares durante toda a antiguidade, nem sequer estatuetas de adoradores em atitude de oração diante de sua divindade”. Para nós isso faz sentido, afinal, sabemos que na Índia Antiga, o Sámkhya teve seu momento de esplendor. E na Índia pré-clássica, a variedade Niríshwarasámkhya, foi ainda mais fortemente naturalista que o Sámkhya Clássico.

Sua sociedade foi identificada como matriarcal, o que também está coerente com as nossas fontes, segundo as quais o Yôga surgiu numa cultura tântrica.

Cavando mais, os arqueólogos descobriram outra cidade sob os escombros da primeira. Para sua surpresa, mais abaixo, outra cidade, bem mais antiga. Cavaram mais e encontraram outra cidade embaixo dessa. E mais outra. E outra mais. O que chamava a atenção era o fato de que, quanto mais profundamente cavavam, mais avançada era sua tecnologia, tanto de arquitetura quanto de utensílios. Até que deram com um lençol d’água e precisaram parar de cavar mais fundo. O que nos perguntamos é: quantas outras cidades haveria lá por baixo e quão mais evoluídas seriam elas?[2]

Bem, foi nessa civilização que o Yôga surgiu. Uma civilização tântrica (matriarcal) e sámkhya (naturalista).

Cerca de mil e quinhentos anos depois, a Civilização do Vale do Indo foi invadida por um povo sub-bárbaro proveniente da Europa Central, os áryas ou arianos. Consta, na História atual, que estes subjugaram os drávidas, destruíram sua civilização, absorveram parte da sua cultura, exterminaram quase todos os vencidos e escravizaram os poucos sobreviventes. Outros fugiram, migrando para o extremo sul da Índia e Srí Lanka, onde vivem seus descendentes até hoje, constituindo a etnia Tamil[3].

O Yôga foi produto de uma civilização não guerreira, naturalista e matriarcal. A partir de mais ou menos 1500 a.C. foi absorvido por um outro povo que era o seu oposto: guerreiro, místico e patriarcal. Cerca de mil e duzentos anos após a invasão (o que não é pouco), esse acervo cultural foi formalmente arianizado mediante a célebre obra de Pátañjali, o Yôga Sútra. Estava inaugurada uma releitura desta filosofia que, a partir de então, passaria a ser conhecida como Yôga Darshana, ou Yôga Clássico, a qual propunha nada menos que o oposto da proposta comportamental do verdadeiro Yôga em suas origens dravidianas. O Yôga dos drávidas era matriarcal, sensorial e desrepressor, numa palavra, ele era tântrico. Essa nova interpretação arianizada era patriarcal, antissensorial e repressora, ou seja, brahmáchárya.

O mais interessante nesse processo de deturpação é que se não fosse Pátañjali, o Yôga teria desaparecido dos registros históricos. Graças a ele, que obviamente era bem intencionado e sábio, hoje sabemos da existência de sua codificação do Yôga Clássico. Os arianos discriminavam tudo o que fosse tipicamente dravídico devido à característica matriarcal considerada subversiva pela sociedade, estritamente patriarcal dos áryas. Adaptando o Yôga para a realidade ariana então vigente, Pátañjali conseguiu que a sociedade e os poderes constituídos da época o aceitassem. Com isso, tal tradição foi preservada e pôde chegar até os nossos dias.

Na Idade Média, o Yôga sofreu outra grave deformação, quando o grande Mestre de filosofia Vêdánta, Shankaráchárya, converteu grande parte da população. Esse fato se refletiu no Yôga, pois, uma vez que a maioria dos indianos tornara-se vêdánta[4], ao exercer o Yôga a opinião pública e suas lideranças passaram a conferir um formato espiritualista[5] ao Yôga que, desde as origens e mesmo no período clássico, era fundamentado na filosofia Sámkhya, naturalista.

No século XX o Yôga sofreu mais um duro golpe: foi descoberto pelo Ocidente e… ocidentalizado, é claro. Tornou-se utilitário, consumista, algo amorfo, feio e maçante.

A um Yôga legítimo é lindo de se assistir, é fascinante de se praticar e é excelente como filosofia de vida. É dinâmico, é forte, é para gente jovem[6]. Todos os que nos visitam e assistem ao vídeo de apresentação do método ficam boquiabertos e comentam a mesma coisa: imaginavam que o Yôga fosse algo parado, a ponto de requerer paciência, ou algo supostamente indicado para a terceira idade! Ora, se alguém na terceira idade resolver iniciar a prática de um Yôga verdadeiro corre o risco de ter uma síncope. E se for um Yôga inautêntico, fruto de sucessivas simplificações, adaptações acumulativas e ocidentalizações inescrupulosas, então não vale a pena denominar de Yôga essa anomalia.

O problema é que muita gente sem certificado de instrutor atirou-se a lecionar e, como não possui repertório de técnicas, mistura um pouco de ginástica, outro tanto de esoterismo, um quê de hipnose, uma pitada de espiritismo, algo da linguagem do tai-chi, uns conceitos macrobióticos, tudo isso temperado com atmosfera de terapias alternativas e embalado para consumo em voz macia, com música new-age. Para o leigo, que não tem a mínima ideia do que seja o Yôga, a não ser uma visão estereotipada e falsa, aquela miscelânea inverossímil satisfaz. Só que ela, de Yôga mesmo que é bom, não tem nada.

Não devemos esquecer de que a palavra Yôga significa integridade. É preciso que seus representantes sejam íntegros. Por isso, nos próximos capítulos você vai ter a satisfação de conhecer uma modalidade fascinante, lindíssima, extremamente agradável de se praticar e com uma carga de resultados capaz de deixar qualquer um perplexo. É o SwáSthya, o próprio Tronco Pré-Clássico, pré-ariano, pré-vêdico, proto-histórico, o Yôga de Shiva, ultra-integral, com todas as suas características Tántrika e Sámkhya preservadas e mais: sua execução lembrando uma dança, resgatada das camadas mais remotas do inconsciente coletivo!

Evidências da existência do Yôga Primitivo

Nada nasce já clássico

Em nossos estudos e mais de 20 anos de viagens à Índia detectamos um erro gravíssimo cometido pela maior parte dos autores de livros e pela maioria dos professores. Declaram eles com frequência que o mais antigo é o Yôga Clássico, do qual ter-se-iam originado todos os demais. É muito fácil provar que estão sofrendo de cegueira paradigmática. Para começo de conversa, nada nasce já clássico. A música não surgiu como música clássica. Primeiro nasceu a música primitiva que foi origem de todas as outras até que, muito tempo depois, apareceu a música clássica. A dança é outro exemplo eloquente. Primeiro surgiu a dança primitiva que deu origem a todas as outras modalidades e precisou consumir milhares de anos até chegar a um tipo chamado dança clássica. Nada nasce já clássico. E assim foi com a nossa tradição ancestral. Inicialmente, nasceu o Yôga Primitivo, Pré-Clássico, pré-ariano, pré-vêdico, proto-histórico. Ele precisou se transformar durante milhares de anos para chegar a ser considerado Clássico. Provado está que o Yôga Clássico não é o mais antigo, consequentemente, não nasceram dele todos os demais – o Pré-Clássico, por exemplo, não nasceu dele.

Além dessa demonstração, nas escavações em diversos sítios arqueológicos foram encontradas gravações em selos de pedra com posições de Yôga muito anteriores ao período clássico. Textos que precederam essa época já citavam o Yôga.

É interessante porque, ao mesmo tempo em que todos os autores afirmam que o Yôga tem mais de 5000 anos de existência, a maioria declara que o mais antigo é o Clássico, o qual foi surgir apenas no século terceiro antes da Era Cristã, criando uma lacuna de 3000 anos, o que constitui incoerência, no mínimo, em termos de matemática!

Mas como doutos escritores e Mestres honestos puderam cometer um erro tão primário?

Acontece que a Índia foi ocupada pelos áryas, cujas últimas vagas de ocupação ocorreram a cerca de 1500 a.C. Isso foi o golpe de misericórdia na Civilização do Vale do Indo, de etnia dravídica. Conforme registraram muitos historiadores, os áryas eram na época um povo nômade guerreiro sub-bárbaro. Precisou evoluir mil e quinhentos anos para ascender à categoria de bárbaro durante o Império Romano. A Índia foi o único país que, depois de haver conquistado a arte da arquitetura, após a ocupação ariana passou séculos sem arquitetura alguma, pois seus dominadores sabiam destruir, mas não sabiam construir, já que eram nômades e viviam em tendas de peles de animais.

Como sempre, “ai dos vencidos”. Os arianos aclamaram-se raça superior (isto lembra-nos algum evento mais recente envolvendo os mesmos arianos?) promoveram uma “limpeza étnica” e destruíram todas as evidências da civilização anterior. Essa eliminação de evidências foi tão eficiente que ninguém na Índia e no mundo inteiro sabia da existência da Civilização do Vale do Indo, até o final do século XIX, quando o arqueólogo inglês Alexander Cunningham decidiu investigar umas ruínas em 1873. Por isso, as Escrituras hindus ignoram o Yôga Primitivo e começam a História no meio do caminho, quando esse nobre sistema já havia sido arianizado.

Tudo o que fosse dravídico era considerado inferior, assim como o fizeram nossos antepassados europeus ao dizimar os aborígines das Américas e usurpar suas terras. O que era da cultura indígena passou a ser considerado selvagem, inferior, primitivo, indigno e, até mesmo, pecaminoso e sacrílego. Faz pouco menos de quinhentos anos que a cultura européia destruiu as Civilizações Pré-Colombianas e já quase não há vestígio das línguas (a maioria foi extinta), assim como da sua medicina, das suas crenças e da sua engenharia que construiu Machu Picchu, as pirâmides da América Latina, os templos e as fortalezas, cortando a rocha com tanta perfeição sem o conhecimento do ferro e movendo-as sem o conhecimento da roda.

Da mesma forma, na Índia, após 3500 anos da ocupação ariana, não restara vestígio algum da extinta Civilização Dravídica. O Yôga mais antigo? “Só podia ser ariano!” Descoberto o erro histórico há mais de cem anos, já era hora de os autores de livros sobre o assunto pararem de simplesmente repetir o que outros escreveram antes dessa descoberta e admitirem que existira, sim, um Yôga arcaico, Pré-Clássico, pré-vêdico, pré-ariano, que era muito mais completo, mais forte e mais autêntico, justamente por ser o original.

De fato, uma vez que a opinião tinha um bom número de vozes que a aceitavam, os que vieram depois supuseram que só podia ter tantos seguidores pelo peso concludente de seus argumentos. Os demais, para não passar por espíritos inquietos que se rebelam contra opiniões universalmente aceitas, são obrigados a admitir o que todo o mundo já aceitava. Daí para a frente, os poucos que forem capazes de julgar por si mesmos se calarão. Só poderão falar aqueles que sejam o eco das opiniões alheias, por serem totalmente incapazes de ter um juízo próprio. Estes, aliás, são os mais intransigentes defensores dessas opiniões. Estes odeiam aquele que pensa de modo diferente, não tanto por terem opinião diversa da dele, mas pela sua audácia de querer julgar por si mesmo, coisa que eles nunca conseguirão fazer e estão conscientes disso. Em suma, são muito poucos os que podem pensar, mas todos querem dar palpite. E que outra coisa lhes resta senão tomar as opiniões de outros em lugar de formá-las por conta própria? Como isto é o que sempre acontece, que valor pode ter a voz de centenas de milhões de pessoas? Valem tanto quanto um fato histórico que se encontre registrado por cem historiadores, quando, na verdade, todos se copiaram uns aos outros, e tudo se resume, em última análise, a um só testemunho.”

Schopenhauer,
citando Bayle em Pensées sus* les Comètes (o negrito é nosso).

* Como alguns leitores corrigiram sus para sur, inserimos aqui a explicação do dicionário Petit Robert de la langue française: Sus [sy(s)] adv. Xe; du latin susum, variante de sursum “en haut” 1. vx Courrir sus à l’enemi, l’ataquer

segunda-feira, 16 de março de 2009 | Autor:

Qual é o nosso público

Especializamo-nos num público de adultos jovens, saudáveis, descontraídos, cultos e de bem com a vida. Assim são os praticantes de SwáSthya Yôga. Assim devem ser os seus alunos.

Outras correntes especializaram-se em senhoras, idosos, crianças, gestantes, místicos, alternativos ou em terapia. O tipo de trabalho que desenvolvemos não é competente para atender as expectativas dessas pessoas. Entenda este procedimento como especialização profissional e nunca como discriminação. Jamais cometeríamos discriminação ou preconceito. Nós aceitamos pessoas de todos os credos, etnias, idades, procedências e opções sexuais. Somos contra qualquer tipo de discriminação.

A razão de termos nos especializado nesse público

Adultos jovens, saudáveis e cultos são o público mais refratário a doutrinações e manipulações. São, portanto, pessoas nas quais podemos confiar para a consecução do nosso trabalho. Queremos também precaver-nos a fim de que nenhum detrator invejoso possa jamais nos acusar de estar catequizando ou manipulando os alunos daquelas faixas mais vulneráveis que são os enfermos, as crianças, os idosos, etc.

Pesquisa na Universidade de Brasília confirma

Conforme matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo, no dia 5 de abril de 2007, o pesquisador Marcio de Moura Pereira, do Grupo de Estudos e Pesquisas da Atividade para Idosos da UnB, comprovou que o SwáSthya não é aconselhável para a Terceira Idade. Embora possamos sempre questionar que quem estava conduzindo a pesquisa não era instrutor de SwáSthya Yôga habilitado ou que o pesquisador era um antipatizante motivado por razões tendenciosas, ainda assim, basicamente concordamos com a conclusão da pesquisa: o SwáSthya não é para a Terceira Idade, como já vimos declarando há muitos anos.

A quem não direcionamos o nosso trabalho:

Crianças – é uma responsabilidade muito grande trabalhar com crianças em qualquer área. No Yôga é mais problemático, pois as recomendações comportamentais poderiam entrar em choque com as dos pais como, por exemplo, se eles tiverem o hábito do álcool e do fumo, os quais são desaconselhados por nós. Além disso, um adulto é menos sujeito a acidentes. Crianças conseguem se machucar até dentro do próprio apartamento, com os pais ao lado. Contudo, mesmo que um adulto sofresse um acidente, causaria menos comoção. Não podemos colocar uma escola de Yôga em risco e muito menos uma criança.

Idosos – são mais frágeis e propensos a sofrer algum problema em sala de prática. Também não conseguem acompanhar as técnicas mais eficientes, obrigando o instrutor a restringir-se a uma aula excessivamente leve, o que desmotiva o profissional e não tem efeito algum. Finalmente, o idoso já fumou ou bebeu ou manteve outros hábitos prejudiciais durante 60 ou 70 anos. Isso compromete seriamente os resultados deste método. O próprio autor, que escreve estas palavras, brevemente será bisavô (portanto, está excluída a possibilidade de discriminação!) e, mesmo com a prática do Yôga, observa em seu corpo as mudanças biológicas naturais dessa faixa etária. Isso significa que recusemos pessoas na idade da razão? De forma alguma! Cerca de cinco por cento dos nossos alunos tem entre sessenta e setenta anos de idade. Mas estão saudáveis, não vieram buscando terapia e aceitaram mudar seus hábitos de vida.

Gestantes – também constituem uma grande responsabilidade, especialmente numa sociedade carregada de desinformação e preconceitos. É claro que há modalidades que se especializaram nesse público, mas queremos enfatizar que não é o nosso caso. As futuras mamães devem tomar muito cuidado ao procurar qualquer linha de Yôga para não transformar o que deveria ser uma experiência maravilhosa  em um momento de grande tristeza.

Místicos – são pessoas boas, que têm uma tendência a crer. Não queremos pessoas que creiam no que estamos ensinando. Queremos pessoas que saibam, que conheçam, que estudem, que possuam um acervo de documentação e fundamentação suficientes para que nossas propostas sejam levadas a sério.

Enfermos – são pessoas que necessitam desesperadamente de alívio para o seu sofrimento e anseiam por uma esperança de cura. São vulneráveis às promessas dos charlatães e não queremos que nenhum instrutor do nosso método se imiscua nesse território. Outro fator de risco é que podem sofrer um achaque a qualquer momento, em qualquer lugar. Se um idoso ou um enfermo morre dentro de um ônibus, não passa pela cabeça de ninguém querer processar o motorista ou pedir uma lei que proíba os ônibus de circular. No entanto, se ele falecer em uma aula de Yôga não temos dúvidas de que poderão querer acusar o professor ou o próprio Yôga.

Para saber mais a este respeito, recomendamos que leia o livro A parábola do croissant, de Rodrigo De Bona.

Leia, também, neste blog o post A life style.

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009 | Autor:
Extrato do nosso livro Quando é Preciso Ser Forte

A partida para a Índia

Chegado o momento certo deixei Paris e voei para Delhi. Foi um choque cultural enorme, contudo, bastante ilustrativo.

A primeira emoção foi sobrevoar o deserto de Thar. O avião voava a 900 km por hora e já havia quase meia hora de areia, às vezes clara, às vezes avermelhada, mas, por certo, sempre escaldante. Num dado momento, um oásis! Que sensação indescritível. Reagi quase como se estivesse caminhando lá embaixo, sedento. Era só um tufo de pequenas palmeiras e grama verde, mas… que imagem bonita e tão rica em vida, comparada com aquelas areias estéreis e inclementes.

Às vezes aparecia um povoado em torno de um oásis, outras vezes sem ele. Dava para enxergar as trilhas de camelos, marcadas na areia mais dura, como verdadeiras estradas, tão longas que perdiam-se no horizonte sem um cruzamento sequer. Todos já vimos isso em fotos ou filmes, mas estar ali em cima era outra coisa. Nas rarefeitas aldeias, aquela gente isolada do mundo, vivia de quê? Se não havia agricultura, água, matérias primas? Viveriam só de pastorear cabras, a um calor de 50oC de dia e 10 negativos à noite, e nunca pensaram em sair dali?

Começaram, então, a aparecer nacos esparsos de vegetação desértica, amarelada. Ao longe, uma visão inesquecível: o fim do deserto. Eu imaginava que os desertos fossem acabando pouco a pouco, com a modificação gradativa do tipo de solo. No entanto, visto lá de cima era impressionante. Aquele deserto acabava de repente, numa linha bem demarcada, onde as areias bruscamente paravam. Vegetação verde, estradas asfaltadas e uma incrível multiplicidade de vilarejos, marcava o início da, assim chamada, civilização.

O oposto dessa experiência foi um outro voo, sobre os Himálayas. O avião estava poucos metros acima das geleiras e uma senhora perguntou ao comissário de bordo, por que estávamos voando a tão pouca altitude.

– Não estamos voando baixo, madame. As montanhas é que são muito altas!

Que coisa linda! Milhares de quilômetros de montanhas cobertas de neve, enrugadas, comprimidas umas contra as outras, algumas altivas, destacando seus picos majestosos. De um lado batia o sol e do outro havia sombra, num contraste de cores enriquecido pela dinâmica da aeronave, proporcionando um espetáculo inimaginável. E saber que, tal como no deserto, não havia quase ninguém lá embaixo, a não ser o Yeti e uma ou outra aldeia encravada num vale. E estes, como será que sobreviviam ali? O ser humano é mesmo obstinado!

Em minhas viagens passei por mais uma experiência que eu gostaria de repartir com você. Já assistiu a um pôr-do-sol que não acabasse? Estávamos viajando numa direção em que acompanhávamos o sol em seu descenso. O céu ficara alaranjado e violeta em toda a extensão da linha do horizonte. O sol, vermelho, podia ser observado sem ferir os olhos e estava descendo lentamente. Dentro do avião, tudo parou para observar o crepúsculo. Exclamações de admiração e cliques de câmeras pipocando, longe de perturbar, até enriqueceram a magia do momento. Só que o “momento” não terminava! Habituados à curta duração de um fenômeno assim, visto do chão, todos a bordo comentavam a beleza que estava sendo, poder observar à vontade e ainda jantar à luz desse pôr-de-sol que durou quase uma hora.

Tudo isso move a minha gratidão à profissão de instrutor de Yôga. Se não fosse por ela, eu não teria podido viajar tanto e vivenciar experiências tão fascinantes.

Outra grande emoção foi quando os trens de aterrissagem do avião tocaram o solo da Índia. Senti-me comover. Eu estava mesmo na Índia, aquele país legendário do qual ouvira falar desde criança. A Índia dos filmes de aventura, dos contos fantásticos e dos livros de Yôga. A Índia dos faquires e dos marajás, dos elefantes e dos templos. E eu estava lá!

Dali para frente foi um misto de surpresas e decepções, alegrias e tristezas. Afinal era como devia ser, pois a Índia tornou-se conhecida como o país dos contrastes.

Primeiro, fiquei um pouco embaralhado com a confusão à saída do aeroporto. Todos os indianos são tão solícitos que um quer levar a mala, outros querem providenciar o táxi e mais uns quantos disputam para indicar o hotel. Dei azar. Aceitei a indicação do mais simpático e acabei num hotel tão distante do centro de Nova Delhi que parecia outra cidade. No dia seguinte mudei-me para um mais bem localizado e menos dispendioso. Se um dia você for a Delhi, é aconselhável ficar em algum hotel próximo a Connaught Place e Janpath Street, onde estão situadas quase todas as coisas mais importantes de Nova Delhi para o viajante: companhias aéreas, agências de turismo, o Tourist Office do Governo, restaurantes, cinemas e um variadíssimo comércio de artesanato, tecidos, roupas, estatuetas, pinturas, incenso, instrumentos musicais, henna, japamalas e tudo o que a sua imaginação nem conseguiria pressupor. Livros, não. É melhor comprá-los em Velha Delhi, na livraria Picadilly Circus.

Adorei a comida da Índia desde o primeiro instante e, como eu, todos quantos a conheceram. Além de saborosíssima, pode-se aceitar o que vier, pois o país é vegetariano e não há perigo de a comida vir com carne de boi, de peixes ou de aves. Por outro lado, se o paladar é superlativo, precisei me adaptar a um pormenor. Tudo vem hipercondimentado com gengibre, cominho, cravo, canela, cardamomo, coentro, curry e chili. Este último é mais ardido que a própria pimenta baiana. Como ainda não estava habituado a comidas tão ricas em especiarias, no segundo dia pedi uma salada de vegetais crus, pois assim, pensava eu, viriam seguramente sem tempero. De fato, recebi uma salada sem sal, sem azeite e sem tempero algum. Comecei a comer e gostei, apesar da falta total do paladar exacerbado dos condimentos. A fome é o melhor tempero. Com apetite, localizei, lá no meio, uma pequena vagem verde. Simpatizei com a cara daquela vagenzinha tão inocente. Mastiguei e engoli. Era o próprio chili! Nunca na minha vida havia tido uma sensação igual… parecia que ia morrer. Imaginei que beber ácido sulfúrico não devia ser pior. Salvou-me uma garrafa de refrigerante, que sorvi de uma só vez.

Tendo passado por esse batismo de fogo (literalmente de fogo), segui no meu curso de Índia. Nos primeiros dias, era pôr o pé na rua e constatar que mais uma falsa imagem ruía. A primeira fora a alimentação, pois os livros de Yôga, em geral, aconselham usar pouco condimento. Mas mesmo as escolas e mosteiros mais espartanos serviam a comida com um paladar bem requintado e forte. Aí, entendi: para eles, aquilo é que era pouco condimentado. A culinária ocidental seria considerada “à moda de isopor”.

Outra fantasia da nossa desinformação é supor que os indianos comuns tenham conhecimento de sânscrito. O sânscrito para o hindu é como o latim para nós. Tentei comprar um dicionário de sânscrito, mas não foi fácil encontrar. A cada livraria era o mesmo ritual: eu chegava, o livreiro vinha solícito, com um sorriso nos lábios. Porém, quando lhe pedia o dicionário, ele fechava a cara, respondia rispidamente que não tinha e virava as costas. Pensei até que tivessem alguma coisa contra o sânscrito. Depois descobri: é o jeitão do indiano. O sim, diz-se com muita amabilidade e o não, com rispidez. Faz parte da dramatização da linguagem. Após ter compreendido isso, não me aborreci mais. No nosso país é diferente. Quando precisamos dizer não, fazemo-lo com cara e voz de quem está desolado e, frequentemente, acrescentamos uma série de justificativas. Assim também já é demais.

Nós esperamos ainda que todo indiano entenda de Yôga. No entanto, um número relativamente pequeno de indianos dedica-se a essa filosofia. No Brasil temos proporcionalmente muito mais instrutores de Yôga do que na Índia, com mais de um bilhão e tanto de habitantes espremidos num território cerca de três vezes menor que o nosso.

Primeiramente, tinha que me ambientar e conhecer a cidade. Visitei templos de várias religiões (hindus, muçulmanos, sikhs, budistas, jainistas etc.), mercados, palácios, museus, ruínas, monumentos. Fui ao Memorial do Gandhi, erigido no local onde ele foi cremado. Visitei o Forte Vermelho, palco de tantas batalhas. Não podia deixar de conhecer o Qtub Minar, a torre inclinada da Índia, ao lado do qual encontra-se o poste de ferro construído há séculos, deixado desde então ao tempo e à chuva e, apesar disso, não enferruja. Essa curiosidade científica é comentada com algum sensacionalismo por Von Daniken em seu livro Eram os deuses astronautas?.

                                                           

Enfim, perfiz o indefectível roteiro de qualquer turista comum. A maioria fica por aí, dá-se por satisfeita e volta para cá cantando de galo, sem ter feito, visto ou aprendido absolutamente nada que prestasse em termos de Yôga.

Tão logo me familiarizei com o território, saí à procura dos bons Mestres. Em Delhi não fui feliz. Certamente, há boas escolas por lá, mas nessa primeira investida não encontrei nenhuma que satisfizesse as minhas expectativas. Eu dispunha de um catálogo publicado pelo Governo da Índia com os endereços de um grande número de entidades selecionadas, porém não senti empatia por nenhuma delas. Comecei então a colher indicações dos próprios indianos e verifiquei um consenso. A esmagadora maioria declarava que determinado professor era o melhor, embora seu nome não constasse do meu guia. No entanto, quando eu questionava:

– O que leva você a considerá-lo o melhor?

Todos, unanimemente respondiam:

– É porque ele vai à televisão(!).

Ora, também estou sendo seguidamente entrevistado pela TV, mas seria um demérito se o povo dissesse que sou bom Mestre somente por essa razão.

Em vista disso, preferi não conhecê-lo. Cansei de procurar na capital e decidi seguir para os Himálayas.

Aguarde a continuação: Os Himálayas

 

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