segunda-feira, 2 de abril de 2012 | Autor:

O que é a kundaliní

Kundaliní é uma energia física, de natureza neurológica e manifestação sexual. O termo é feminino, deve ser sempre acentuado e pronunciado com o í final longo. Os leigos aplicam o termo no masculino e pronunciam “o kundalíni”, mas está errado. Repetimos: o termo é feminino, deve ser pronunciado com a tônica na primeira sílaba e a longa na última.

Pronuncie em voz alta para fixar a correção: kundaliní[1]. Significa serpentina, aquela que tem a forma de uma serpente. De fato, sua aparência é a de uma energia ígnea, enroscada três vezes e meia dentro do múládhára chakra, o centro de força situado próximo à base da coluna e aos órgãos genitais. Enquanto está adormecida, é como se fosse uma chama congelada. É tão poderosa que o Hinduísmo a considera uma deusa, a Mãe Divina, a Shaktí Universal. Todo o sistema do Yôga, de qualquer ramo, apoia-se no conceito da kundaliní.

De fato, tudo depende dela conforme o seu grau de atividade – a tendência do homem à verticalidade, a saúde do corpo, os poderes paranormais, a iluminação interior que o arrebata da sua condição de mamífero humano e o catapulta em uma só vida à meta da evolução sem esperar pelo fatalismo de outras eventuais existências.

Se você já tiver lido explicações místicas ou confusas sobre a kundaliní, vamos simplificar isso. O conceito freudiano de libido e o reichiano de orgônio chegaram bem perto do princípio e anatomia da kundaliní no Yôga Antigo. Se você quiser um termo leigo, mais compreensível, pode traduzir kundaliní simplesmente como sexualidade. Freud e Reich tentaram domá-la para fins terapêuticos. Como nenhum dos dois possuía a Iniciação de um Mestre nesses mistérios, ambos fracassaram e deixaram à posteridade uma herança meramente acadêmica de teorias sobre o assunto, sem grandes resultados práticos.

A energia da kundaliní responde muito facilmente aos estímulos. Despertá-la é fácil. Um exercício respiratório que aumente a taxa de comburente é suficiente para inflamar o seu poder. Um bíja mantra corretamente vocalizado é capaz de movimentá-la. Um ásana que trabalhe a base da coluna posiciona-a para a subida pela medula. Uma prática de maithuna pode deflagrá-la. Basta combinar os exercícios certos e praticá-los com regularidade.

Já que despertar a kundaliní não é difícil, não mexa com ela enquanto não tiver um Mestre. E quando o encontrar, não a atice sem a autorização dele. Difícil é conduzi-la com disciplina, ética e maturidade.

SwáSthya, o Yôga Antigo, vai fundo nesse trabalho, levantando a kundaliní da base da coluna até o alto da cabeça, através dos chakras, ativando-os poderosamente, despertando os siddhis e eclodindo o samádhi.

O medo injustificado da kundaliní

O despertamento da kundaliní é uma questão evolucionária. As Humanidades futuras terão a kundaliní plenamente desperta e, consequentemente, os chakras bem desenvolvidos, exercendo de forma comum os poderes que hoje são considerados paranormais. O Yôga consiste em acelerar o processo evolutivo, proporcionando a evolução de um milhão de anos em uma década.

Os ocidentais costumam ter medo da kundaliní, primeiro por serem teóricos no assunto. Depois, têm medo do desconhecido. Finalmente, a kundaliní tem a aparência de uma serpente ígnea enroscada na região do períneo. Na nossa cultura cristã, serpente está associada à desobediência que nos fez ser expulsos do Éden. Serpente de fogo – fogo lembra o inferno. É situada na região do períneo, que tem a ver com sexo, um dos tabus mais arraigados. Juntando tudo, podemos compreender o motivo pelo qual os ocidentais – em especial os latinos – temem o conceito da kundaliní. No entanto, é preciso superar nossas limitações culturais. É preciso ler e viajar para esgarçar os antolhos que espremem a nossa inteligência.

Pátañjali, o codificador do Yôga Clássico, que viveu provavelmente no século III a.C., em seu livro Yôga Sútra, afirma que a meta do Yôga é o samádhi. Samádhi é o estado de hiperconsciência e megalucidez que proporciona o autoconhecimento. Segundo Shivánanda, o mais expressivo Mestre hindu do século XX, médico oftalmologista, autor de mais de 300 livros sobre Yôga, “nenhum samádhi é possível sem kundaliní[2]“. Dess’arte, os instrutores de yóga e de Yôga que forem contra o despertamento da kundaliní não sabem de que estão falando, não têm noção do que é o Yôga. Nem eles, nem seus discípulos, vão atingir a meta do Yôga.

A função do Yôga é despertar essa energia, mas, dependendo da modalidade de Yôga, o método pode ser mais rápido ou mais lento, mais seguro ou mais perigoso, pode ser agradável ou, ao contrário, causar sofrimento. Daí a importância de saber muito bem onde estamos nos metendo, antes de entregar a nossa saúde física e mental nas mãos de qualquer um que declare estar habilitado a ensinar Yôga.

O SwáSthya Yôga é um método rápido, mas não excessivamente. É extremamente seguro. E, por ser de natureza tântrica, o processo de despertamento costuma ser muito agradável.

Os vários métodos para despertar a kundaliní

Vamos dar uma ideia das diferenças dos métodos. Um deles, por exemplo, consiste em exacerbar a força da kundaliní dentro do seu envoltório no múládhára chakra, até que a pressão seja tanta que rompa seu selo e exploda coluna acima. O inconveniente desse método é que pode explodir para qualquer direção, principalmente se o praticante não tomou o cuidado prévio de purificar o seu corpo, desobstruindo as nádís, canais por onde essa energia deverá fluir. Isso costuma ocorrer com adeptos de outros tipos de Yôga que não observam as normas de não fumar, não tomar álcool algum, não usar drogas, não comer carnes, nem brancas. Nesse caso, o praticante poderá sofrer um derrame de energia, muito semelhante ao que ocorre com o sistema circulatório. Poderá morrer ou ficar com sequelas graves para o resto da vida.

Outro método para despertar a kundaliní é romper intencionalmente a válvula de segurança denominada granthi, que temos na base da coluna, mediante vários exercícios. Um deles é o mahá vêdha, uma prática do Hatha Yôga que você deve evitar se for utilizar o nosso método ou se não for supervisionado por um Mestre que o oriente. O mahá vêdha consiste em golpear com o períneo sobre o calcanhar sucessivas vezes, o que é bem doloroso, e repetir o processo todos os dias durante semanas ou meses, até que rompa a proteção e a energia da kundaliní seja liberada. Isso é uma irresponsabilidade. Pode causar os mesmos inconvenientes do método anterior e ainda produzir uma doença chamada fuga de energia, a qual, associada ao movimento sinistrógiro dos chakras, é conhecida como vampirismo. É que, se as nádís estiverem obstruídas pelos detritos de uma alimentação inadequada, fumo, álcool ou drogas, e os dejetos de emoções e pensamentos pesados, a energia liberada não tem para onde subir.

A fuga de energia pelo múládhára chakra, produz no astral a imagem de uma cauda.

Não havendo mais a válvula de proteção, a energia começa a fugir pela base da coluna, deixando um rastro atrás de si, que aos clarividentes lembra muito a cauda de Satã.

A cauda energética é uma eloquente alusão ao retrocesso evolutivo. Levamos milhões de anos de evolução para perder a cauda e, por uma prática inadequada, irresponsáveis e indisciplinados voltam a desenvolvê-la, tornando-se A Besta.

Segundo Tara Michaël, em seu livro O Yôga[3], “Hatha significa força, violência. É uma via rápida para forçar kundaliní a despertar. Uma via demasiadamente curta, que necessita de um esforço extraordinário para atingir a meta (o despertamento da kundaliní), como que através de um arrombamento (dos granthis)”. Os esclarecimentos entre parêntesis são nossos.

Isso, no entanto, não deve afastar ninguém da experiência da kundaliní. Deve é estimular sua disciplina e seu senso de responsabilidade ao escolher um bom método de Yôga, bem como um instrutor formado, supervisionado e revalidado anualmente. Em 2007 comemorei 47 anos de ensino do SwáSthya Yôga e jamais o nosso método causou sequer o menor inconveniente. No momento em que escrevo, a rede de escolas de Yôga que adotam nosso sistema conta com 50 000 alunos distribuídos por centenas de Unidades em vários países. Nunca tivemos acidentes, graças à excelência do método e à disciplina que é exigida do candidato antes de aceitá-lo. Quem exagera os perigos da kundaliní pode estar interessado apenas em manipular o público através da exploração dos seus medos[4].

Nosso método para despertar a kundaliní é suave, responsável e eficiente. Consiste em, primeiro, purificar o organismo com uma alimentação biológica, inteligente, sem carnes (nem brancas[5]), sem fumo (nem natural), sem álcool (nem o vinhozinho das comemorações especiais) e sem drogas (nem as legalizadas). Em seguida, procedemos a uma reeducação emocional e mental, para que não conspurquemos nosso corpo com secreções tóxicas oriundas de emoções viscosas e de pensamentos pesados. A seguir, aumentamos a flexibilidade da coluna, afinal, é por ali que a energia vai passar. Se a espinha estiver encarquilhada pela vida sedentária, precisa ser rejuvenescida antes de liberarmos a bhujanginí[6]. A partir de então, através dos pránáyámas, vamos bombear comburente para inflamar a serpente de fogo, aplicaremos bandhas para empurrá-la para cima, chaitánya para gerar o arquétipo mental do resultado desejado, e outras técnicas. E muita, muita disciplina, obediência e fidelidade.

A kundaliní é feminina

O termo kundaliní é feminino. Seu gênero é designado pelo í final acentuado, portanto, com pronúncia longa. Quem pronuncia no masculino ou com a tônica na sílaba anterior (“kundalíni”) geralmente é leigo ocidental. Os não-iniciados dirão que isso é uma filigrana sem maior importância e que não faz diferença se o vocábulo é masculino ou feminino. Acontece que essa informação é crucial quando deixamos de ser meros teóricos e tornamo-nos yôgins (praticantes de Yôga). O gênero feminino indica polaridade negativa. O gênero masculino indica polaridade positiva. Se fosse “o kundalíni”, no masculino, teria polaridade positiva, o que exigiria procedimentos opostos para despertar essa energia.

Caso o ensinante de “yóga” não tenha iniciação nem experiência prática, vai chamar a energia de “o kundalíni”, conceitualmente inverterá a polaridade e, na hora de aplicar as técnicas, ao invés de fazer o poder serpentino subir, vai fazê-lo descer! Por isso, tal ensinante leigo incutirá medo nos estudantes, porque ele mesmo não tem muita noção do que ensina.

Inúmeros autores escrevem livros sem experiência prática daquilo sobre o que dissertam. Esses, geralmente, são os que assustam seus leitores com mistérios e perigos, pois é assim que a kundaliní se lhes afigura. Na prática, as coisas são muito mais simples.

Kundaliní é uma energia física, de natureza neurológica e manifestação sexual. Nesta definição estão as chaves para compreender e manobrar a kundaliní. Os estudiosos de linha espiritualista defendem que essa energia é espiritual e, em sendo algo subjetivo, impalpável, eles não têm como instrumentá-la. Daí a opinião tupiniquim de que os Grandes Mestres da Índia Antiga estavam errados e que a kundaliní não deve ser despertada.

Nós do SwáSthya Yôga, por sermos de linhagem Tantra-Sámkhya[7], sabemos que a kundaliní é uma energia física e não espiritual como declaram os professores de linha espiritualista. Sendo energia física, ela está sujeita às leis da Física. Na Física, os polos iguais se repelem. Logo, para fazê-la ascender devemos, entre outras técnicas, pressioná-la com uma parte do corpo que tenha polaridade igual. Um dos ásanas que atendem a esse requisito é o siddhásana[8] (siddha, aquele que possui os siddhis, paranormalidades). Se o ensinante leigo a chama de “o kundalíni”, no masculino, mesmo que conheça o mecanismo de acionamento, mesmo que saiba que se trata de uma energia sujeita às leis da Física, ainda assim errará, pois colocará o polo equivocado em contato com o períneo e, ao invés de gerar força de repulsão, criará atração, trazendo a kundaliní para baixo.

Os perigos da kundaliní

Há algum perigo? O único perigo é a existência de indiscípulos, aqueles que discordam por razões de ego, descumprem as instruções por questões de conveniência, fazem tudo errado por indisciplina e depois ainda querem que a coisa funcione. Se o praticante obedecer rigorosamente as recomendações de um Mestre qualificado e com experiência própria, não há riscos. Você quer um exemplo de algo mais mortal que um salto mortal? Entretanto, ninguém morre dando saltos mortais na ginástica olímpica, porque há um método de aprendizagem. Basta seguir o método. O nosso vem com garantia de fábrica de 5000 anos.

 


[1] Para pronunciar corretamente os termos sânscritos, recomendamos escutar o CD Sânscrito – Treinamento de Pronúncia, gravado na Índia com a participação de Mestres hindus, autoridades em sânscrito e em mantra.

[2] Memorize: livro Kundaliní Yôga, páginas 70 e 126 da primeira edição, Editorial Kier, Buenos Aires.

[3] Editora Cultrix, São Paulo, 1976.

[4] O uso frequente da intimidação “isto é muito perigoso, aquilo é muito perigoso”, denota uma personalidade psicótica. Tome cuidado com esse tipo de gente, pois costuma lançar mão daquele expediente para manipular as pessoas através do medo.

[5] Está instalada no ambiente “da yóga” uma atitude que consiste em declarar-se vegetariano, mas comer peixes e aves, como se estes fossem vegetais! Ou afirmar que não toma álcool, mas beber, sim, seu vinho “em ocasiões especiais”, ou às refeições. Por isso, relatam tantos acidentes com a kundaliní e por isso, manifestam tanto medo dela. Porque desobedecem abertamente as normas milenares de segurança.

[6] Pronuncie “bhudjanguiní”. É sinônimo de kundaliní.

[7] Para mais esclarecimentos sobre Tantra e Sámkhya, recomendamos a leitura do livro Yôga, Sámkhya e Tantra, de Sérgio Santos, considerado como o mais completo texto sobre esses temas em língua portuguesa.

[8] Siddhásana consiste em pressionar o períneo com o calcanhar de polaridade negativa (não confunda este procedimento com o mahá vêdha, já desaconselhado neste livro). Sendo a kundaliní, também, de polaridade negativa, ambos se repelem e, como o calcanhar permanece no períneo, a kundaliní tende a ascender pela medula. Caso o praticante se referisse a essa energia como “o kundalíni”, no masculino, suporia, erroneamente, que sua polaridade fosse positiva. Nesse caso, ainda sabendo que essa energia é física e não espiritual (logo, sujeita às leis da Física), aplicaria o calcanhar de polaridade positiva e isso só atrairia a kundaliní para baixo, impedindo a evolução ou até mesmo causando uma involução do praticante. [A repetição deste esclarecimento foi intencional, dada a gravidade e a constância da incidência do mencionado equívoco.]

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