sábado, 3 de setembro de 2016 | Autor:

Logo no primeiro dia de internato, houve uma competição para medir forças e estabelecer hierarquia entre os alunos. Era uma espécie de trote, The king of the hill, que consistia em conquistar o domínio de uma rocha, derrubando quem estivesse lá em cima e, depois, não deixando mais ninguém subir.
Como o Yôga me deu um bom preparo físico, fiquei numa posição muito especial: empatei com outro aluno, tão grande que seu apelido era Gigante. Logo após, por coincidência, vi-me envolvido numa esgrima verbal com um veterano para defender um calouro menor, de quem já estavam abusando demais. Eu não sabia, mas esse veterano era considerado o chefão por ali. Como o enfrentei bem, a gurizada não quis nem saber de fazer troça com o sistema hindu que eu adotara.
Nessa noite, o chefe de disciplina, Sr. Adalberto, chamou-me na frente de todos e me admoestou severamente.
– Aqui, não queremos galos de briga – disse ele –, mas como foi para defender o colega menor, desta vez você não vai ser punido.
Pelo contrário, recebi uma recompensa e tanto: passei a ser o cabeceira, que era quem tomava conta dos que se sentassem à sua mesa nas refeições e, mais tarde, tornei-me Auxiliar de Disciplina dos alunos do internato. Depois, seria nomeado pelo Prof. Barbosa também para o externato, ganhando com isso diversas vantagens, além da motivação e da autoafirmação tão importantes naquela idade: passei a poder ir às aulas sem uniforme e a ganhar meus estudos como bolsista em troca desse trabalho.
Este homem salvou a minha vida, tanto quanto a prática da filosofia que eu professava e professo. Percebendo que minha energia poderia me encaminhar para a rebeldia, chamou-me e disse: “Percebo que você tem muita liderança. Não quer me ajudar a manter a disciplina?” Com isso, ele ganhou um aliado e eu, adolescente questionador, enquadrei-me no bom caminho.

terça-feira, 5 de outubro de 2010 | Autor:

Oi Mestre!
Estudo o Método em Brasília, na Unidade Asa Norte. Sou aluno do Suassuna.
Transcrevo abaixo o tópico intitulado “Cultura Patriarcal” do capítulo “Conversações Matrísticas e Patriarcais” do livro de Humberto Maturana e Gerda Verden-Zöller (1993): “Amor y Juego: Fundamentos Olvidados de lo Humano – Desde el patriarcado a la democracia”, traduzido e publicado no Brasil como “Amar e Brincar: fundamentos esquecidos do humano – Do patriarcado à democracia” (São Paulo: Palas Athena, 2004).

CULTURA PATRIARCAL

Os aspectos puramente patriarcais da maneira de viver da cultura patriarcal européia – à qual pertence grande parte da humanidade moderna, e que doravante chamarei de cultura patriarcal – constituem uma rede fechada de conversações. Esta se caracteriza pelas coordenações de ações e emoções que fazem de nossa vida cotidiana um modo de coexistência que valoriza a guerra, a competição, a luta, as hierarquias, a autoridade, o poder, a procriação, o crescimento, a apropriação de recursos e a justificação racional do controle e da dominação dos outros por meio da apropriação da verdade.
Assim, em nossa cultura patriarcal falamos de lutar contra a pobreza e o abuso, quando queremos corrigir o que chamamos de injustiças sociais; ou de combater a contaminação, quando falamos de limpar o meio ambiente; ou de enfrentar a agressão da natureza, quando nos encontramos diante de um fenômeno natural que constitui para nós um desastre; enfim, vivemos como se todos os nossos atos requeressem o uso da força, e como se cada ocasião para agir fosse um desafio.
Em nossa cultura patriarcal, vivemos na desconfiança e buscamos certezas em relação ao controle do mundo natural, dos outros seres humanos e de nós mesmos. Falamos continuamente em controlar nossa conduta e emoções. E fazemos muitas coisas para dominar a natureza ou o comportamento dos outros, com a intenção de neutralizar o que chamamos de forças anti-sociais e naturais destrutivas, que surgem de sua autonomia.
Em nossa cultura patriarcal, não aceitamos os desacordos como situações legítimas, que constituem pontos de partida para uma ação combinada diante de um propósito comum. Devemos convencer e corrigir uns aos outros. E somente toleramos o diferente confiando em que eventualmente poderemos levar o outro ao bom caminho – que é o nosso –, ou até que possamos eliminá-lo, sob a justificativa de que está equivocado.
Em nossa cultura patriarcal, vivemos na apropriação e agimos como se fosse legítimo estabelecer, pela força, limites que restringem a mobilidade dos outros em certas áreas de ação às quais eles tinham livre acesso antes de nossa apropriação. Além do mais, fazemos isso enquanto retemos para nós o privilégio de mover-nos livremente nessas áreas, justificando nossa apropriação delas por meio de argumentos fundados em princípios e verdades das quais também nos havíamos apropriado. Assim, falamos de recursos naturais, numa ação que nos torna insensíveis à negação do outro implícita em nosso desejo de apropriação.
Em nossa cultura patriarcal, repito, vivemos na desconfiança da autonomia dos outros. Apropriamo-nos o tempo todo do direito de decidir o que é ou não legítimo para eles, no contínuo propósito de controlar suas vidas. Em nossa cultura patriarcal, vivemos na hierarquia, que exige obediência. Afirmamos que a uma coexistência ordenada requer autoridade e subordinação, superioridade e inferioridade, poder e debilidade ou submissão. E estamos sempre prontos para tratar todas as relações, humanas ou não, nesses termos. Assim, justificamos a competição, isto é, o encontro na negação mútua como a maneira de estabelecer a hierarquia dos privilégios, sob a afirmação de que a competição promove o progresso social, ao permitir que o melhor apareça e prospere.
Em nossa cultura patriarcal, estamos sempre prontos a tratar os desacordos como disputas ou lutas. Vemos os argumentos como armas, e descrevemos uma relação harmônica como pacífica, ou seja, como uma ausência de guerra – como se a guerra fosse a atividade humana mais fundamental.
Em nossa cultura patriarcal, estamos sempre prontos a tratar os desacordos como disputas ou lutas. Vemos os argumentos como armas, e descrevemos uma relação harmônica como pacífica, ou seja, como uma ausência de guerra – como se a guerra fosse a atividade humana mais fundamental.

Nossa Cultura é o meio onde tudo isso foi superado, onde há respeito à vida. Obrigado por nos proporcionar um ambiente tão raro e honesto.

Mahá baddha abraço.

Oi André, tudo bem? Tenho um amigo que pratica aí em Brasília, Hugo Leonardo Queiroz, será que vocês se conhecem?

Gostei do texto André =)
Através do Método podemos nos tornar pessoas melhores sim.

O título “Do patriarcado à (para a) democracia” dá a impressão de que houve uma evolução, mas houve? No patriarcado, o homem é a maior autoridade, tendo poder sobre todos que lhe estão subordinados, devendo estes lhe prestar obediência. Democracia é um regime de governo no qual o poder de tomar decisões políticas está na mão dos cidadãos, por meio de representantes eleitos. Veja que, os eleitos deveriam apenas representar as decisões políticas tomadas pelo povo, mas o que ocorre é o inverso, o povo que representa as decisões políticas dos eleitos, os cidadãos enfim fazem o que o patriarcado quer. O direito de votar, manifestar e lutar foi conquistado, contudo a desigualdade ainda persiste, o poder e a opressão também. Querendo ou não, se obedece a autoridade, se consente.

Você já leu o livro “Discurso da Servidão Voluntária”? Vou citar alguns trechos pra você:

“Não é preciso combater o tirano, não é preciso anulá-lo; ele se anula por si mesmo, contanto que as pessoas não consintam a sua servidão. Não se deve tirar-lhe coisa alguma, e sim nada lhe dar”.
“Para que os homens deixem-se sujeitar, é preciso que sejam forçados ou iludidos”.
“Para alguns, mesmo que a liberdade estivesse inteiramente perdida e de todo fora do mundo, a imaginam e a sentem em seu espírito; e a servidão não é de seu gosto por mais que esteja vestida”.
“Sob os tiranos, as pessoas facilmente se tornam covardes e efeminados”.
“Como é possível que tantos homens, cidades, nações suportem tudo de um tirano, que tem apenas o poderio que lhe dão, que não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto aceitam suportá-lo, e que não poderia fazer-lhes mal algum se não preferissem, a contradizê-lo, suportar tudo dele”.
“O povo parece ter perdido todo sentimento do mal que o aflige, com efeito, deixa crer que o próprio amor da liberdade não é tão natural”.

beijos para você, beijos para o DeRose =)
Fernanda.
Unidade Centro Cívico – Curitiba/PR
http://www.derosecentrocivico.org/

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008 | Autor:

Complementando o post Responda com cordialidade, postado ontem,  às 2 da manhã (1:54), quero agradecer a todos os meus alunos, instrutores, amigos e leitores que tomaram a iniciativa de defender o nosso nome e o nosso trabalho. Muitos escreveram para a redação da revista prestando o seu testemunho e esclarecendo aqueles que por (des)ventura ignorem a seriedade do trabalho que nossos jovens desempenham em todo o país e noutras terras. São profissionais honestos e esforçados, jovens em sua maioria, porém extremamente competentes. Não merecem ser achincalhados por uma irresponsabilidade jornalística, que venha a prejudicar um trabalho tão bonito. No final de um curso, o instrutor Vini (Vinícius), do Rio de Janeiro, veio conversar comigo e disse: “Obrigado, Mestre, por ter salvo a minha vida.” Respondi que ele também estava salvando vidas, pois também era instrutor de SwáSthya. Mas o que ele declarou em seguida deveria ser lembrado por todos os pais e por todos os jornalistas: “Não, eu quero dizer que você salvou mesmo a minha vida. Antes de praticar o seu Método, eu e meu melhor amigo enchíamos a cara e saíamos para a night. Com o Yôga eu parei de beber e não saía mais para aqueles programas. Ontem, o meu amigo tomou umas e outras, saiu de carro, bateu, matou e morreu. Eu estou indo agora para o velório dele. Eu deveria estar naquele carro e estaria morto agora se não fosse você. Portanto, obrigado, por ter salvo a minha vida.”

Declarações como esta emocionam e nos mostram que, mesmo se o Yôga fosse uma fantasia e se não servisse para mais nada, serviria para afastar nossos jovens das drogas, do álcool e do fumo. Isso, sim, é o que a imprensa precisa divulgar e defender.